Na famosa canção Sampa, Caetano Veloso canta: "É que Narciso acha feio o que não é espelho". A frase ecoa fortemente no universo das academias, onde espelhos dominam as paredes e parecem convidar os frequentadores a se enamorar de suas próprias imagens. Isso me fez pensar no mito de Narciso, descrito por Ovídio, que, ao se encantar com o reflexo na água, esqueceu de viver e acabou definhando. Talvez, o mesmo esteja acontecendo por aqui, só que desta vez diante de espelhos de vidro e não de água.
Não é meu objetivo julgar ou criticar quem cuida da aparência. É natural e saudável valorizar o corpo e se sentir bem consigo mesmo. Mas há uma linha tênue entre cuidado e obsessão. Quando o culto ao próprio reflexo ultrapassa a busca por saúde e se transforma em uma adoração constante da própria imagem, corremos o risco de nos perdermos nesse processo. Afinal, o espelho não tem sentimentos, e o amor que ele reflete não é recíproco.
O que me chama atenção é que nossa sociedade, tão diversa em opiniões, valores e crenças, está em um ciclo constante de mudança. O que era considerado vaidade ou pecado ontem, hoje pode ser visto como normal ou até mesmo necessidade.
Se você vai à academia, vá por si mesmo, pelo seu bem-estar. Mas lembre-se: o reflexo que te observa do espelho não é mais importante que as relações e interações com o mundo real. Respeite as diferenças, cuide da sua saúde, mas cuidado para que, ao se olhar no espelho, você não esteja se apaixonando por uma ilusão.
E quem sabe, por trás daquele reflexo, não esteja um novo Narciso, preso em uma prisão de vidro?

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